Show Opinião e Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Por Maria Sílvia Betti

 


Show Opinião Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Por Maria Sílvia Betti






 

 

Show Opinião

 

https://www.youtube.com/watch?v=p-1-4sFqfLg

 

Podem me prender,

podem me bater,

podem até deixar-me sem comer,

que eu não mundo de opinião.

Daqui do morro eu não saio não.

 

Esses eram os versos do refrão do samba do compositor Zé Keti que inspiraram o título do show “Opinião”, espetáculo de música popular brasileira cuja estreia se deu em dezembro de 1964, oito meses depois do golpe militar. O show foi a primeira manifestação organizada de rearticulação de ativistas do CPC diante do regime autoritário instalado no país. Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa e Paulo Pontes foram os autores do roteiro.

No dia da deflagração do golpe, o prédio da UNE, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, foi cercado por forças policiais, esvaziado, metralhado e incendiado. A entidade estudantil foi posta na clandestinidade, e nesse contexto nenhuma menção pública a ela e ao CPC podia ser feita sem colocar em risco seus ativistas. Augusto Boal assinou a direção, e o Teatro de Arena de São Paulo assumiu a coprodução.

O show intercalava música brasileira de gêneros variados (sambas, marchinhas carnavalescas, canções de protesto etc.) e depoimentos dos três artistas que cantavam em cena, e que eram provenientes de diferentes classes sociais e regiões do país: Zé Keti, um sambista dos morros da zona norte carioca, João do Vale, um compositor maranhense, e Nara Leão, uma jovem cantora ligada à bossa nova e à intelectualidade de classe média do Rio de Janeiro. Os depoimentos eram intercalados com canções, e nas metáforas e imagens presentes nas letras, o show enunciava, por meio de alusões de estratégico duplo sentido, a convicção, compartilhada pelo público que a ele afluiu, de inequívoco repúdio ao quadro político instaurado com a tomada do poder pelos militares.

 

 

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

 

https://www.youtube.com/watch?v=qi0_QtmPkbc

 

O enorme sucesso do show Opinião (e também de Liberdade, Liberdade, espetáculo que o sucedera), impunha a seus realizadores uma tarefa urgente diante da conjuntura política do país: era preciso que se fizesse um diagnóstico crítico da situação que se apresentava, pois sem isso não seria possível agir diante dela.

A esquerda havia sofrido uma fragorosa derrota em 1964, com efeitos arrasadores sobre os movimentos operário, camponês e estudantil. Uma imagem parecia resumir, com um grau considerável de fidelidade, a constatação de todos nesse díficil momento: “se correr o Bicho pega, se ficar o Bicho come”. Essa era a imagem metafórica da situação política do país, apontando para a ausência de certezas e de perspectivas. Foi a partir dessa imagem que os artistas egressos do CPC e aglutinados desde o show Opinião se lançaram à proposta de um novo trabalho: a comédia Se correr o Bicho pega, se ficar o Bicho come, inspirada na literatura de cordel e escrita por Oduvaldo Vianna Filho com a colaboração do poeta Ferreira Gullar. A peça estreou no Rio de Janeiro em abril de 1966, e foi o terceiro espetáculo do grupo, que nesse ano passou oficialmente a chamar-se Opinião.

 




Ciclo de encontros quinzenais online

ODUVALDO VIANNA FILHO [1936-1974]:

dramaturgia, pensamento estético e luta política.


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19 de julho — Quatro quadras de terra e Os Azeredo mais os Benevides

 https://www.youtube.com/watch?v=G4g050M3ByU

 

05 de julho – Auto dos 99%. Ou como a Universidade capricha no subdesenvolvimento e Brasil versão brasileira

https://www.youtube.com/watch?v=w1QWLElhkbo&t=1s

 

21 de junho – Chapetuba Futebol Clube e A mais valia vai acabar, seu Edgar

https://www.youtube.com/watch?v=5pHJ0U7l5ic&t=6s

 

 

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Quatro quadras de terra e Os Azeredo mais os Benevides. Por Maria Sílvia Betti

 

Quatro quadras de terra e Os Azeredo mais os Benevides. Por Maria Sílvia Betti






 

Quatro quadras de terra

Quatro quadras de terra foi escrita em 1963. Seu título original era “O filho da besta torta do Pajeú”, segundo algumas fontes, e “A besta torta do Pajeú”, segundo outras. Nela Vianinha trata da questão do latifúndio, da exploração dos trabalhadores rurais e da luta pela posse da terra, questões candentes dentro do debate político e econômico do país naquele momento. Em março de 1963 o Presidente João Goulart havia promulgado a lei 4214/63, que teve sucessivas versões até ser aprovada pelo Congresso Nacional. A lei estendia aos assalariados do campo os direitos de sindicalização, salário mínimo, férias, repouso semanal remunerado, aviso prévio e indenização. No centro do enredo Vianinha abordou aspectos cruciais desse contexto: o sufocamento das culturas agrícolas acarretado pela expansão da pecuária, o êxodo rural resultante, e a urgente e necessária construção de uma consciência de luta por parte do campesinato.

A peça foi apresentada em inúmeras capitais do país dentro das iniciativas da II UNE Volante no segundo semestre de 1963. Inscrita no Concurso de Dramaturgia da Casa de las Americas, em Havana, foi premiada com o primeiro lugar. A Casa de Las Americas, fundada quatro meses depois da vitória da Revolução Cubana, tinha como objetivo fomentar o intercâmbio cultural de Cuba com os demais países latinoamericanos. As questões socioeconômicas da América Latina também estariam presentes em peças que Vianna escreveria nos anos seguintes, como Os Azeredo mais os Benevides, de 1963/64, Se correr o Bicho pega, se ficar o Bicho come, de 1966, Dura lex sed lex no cabelo só Gumex, de 1967, e Papa Highirte, de 1968.

 

 

 

Os Azeredo mais os Benevides

Os Azeredo mais os Benevides retoma as questões tratadas em Quatro quadras de terra, e dá a elas um tratamento dramatúrgico apoiado nos princípios épicos de trabalho de Bertolt Brecht. A peça havia sido escolhida para ser o espetáculo inaugural do Teatro do CPC da UNE. Sua estreia, prevista para a primeira semana de abril de 1964, tinha direção de Nélson Xavier e assistência de direção de João das Neves. A estreia não aconteceu, pois no dia 01 de abril o prédio foi incendiado pelas forças militares no contexto do golpe que depôs o presidente João Goulart, e a UNE foi posta na clandestinidade.

Importantes debates teórico-práticos que haviam se realizados nos três anos precedentes se encontravam em pauta, nesse momento, e mostravam que algumas reavaliações decisivas de conceitos e de expedientes de criação estavam em curso.

Assim como Brasil versão brasileira, Os Azeredo mais os Benevides critica a ilusão de uma aliança entre setores supostamente progressistas da burguesia nacional e as classes exploradas.

 

 REFERÊNCIAS TERCEIRO ENCONTRO

 

Delmanto, Ivan. Olhar nos olhos da tragédia – Dialética estagnada em Vianinha – quarta descida ao inferno – o círculo do teatro épico no Brasil. Programa Nacional de Apoio à Pesquisa na Biblioteca Nacional. Disponível em: <https://antigo.bn.gov.br/producao/documentos/olhar-nos-olhos-tragedia-dialetica-estagnada-vianinha-quarta>. Acesso em: 19 jul. 2024.

Julião, Francisco. Que são as Ligas Camponesas. Disponível em: <https://documentosrevelados.com.br/wp-content/uploads/2018/09/francisco-juliao-que-sao-as-ligas-camponesas.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2024.

Konder, Leandro. A revanche da Dialética. Org. Maria Orlanda Pinassi. Editora da UNESP, 2002.

Mota, Danilo Henrique Faria. O Nacional-Popular e a Dramaturgia de Vianinha no Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE). Disponível em: <https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/21503/5/NacionalPopularDramaturgia.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2024.

Ribeiro, Darcy. A formação e o sentido do Brasil. Disponível em: <https://docs.google.com/file/d/0B5CKOIYv6BmtMExPUy1kOXdUYWM/edit?resourcekey=0-jZ5MKdGhJK3FYFp_U77lsw>. Acesso em: 19 jul. 2024.

Sodré, Nelson Werneck. Formação Histórica do Brasil. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/sodre/1962/mes/90.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2024.

Stedile, João Pedro. A questão agrária no Brasil. Disponível em: <https://acrobat.adobe.com/id/urn:aaid:sc:VA6C2:9bc0607b-8d55-46f3-a1ba-cf597e4682e2>. Acesso em: 19 jul. 2024.

 

 

JORNAIS

Última Hora Ano 1964\Edição 04292 (1)29 de fevereiro de 1964

Novos Rumos Ano 1963\Edição 00208 (1)

Novos Rumos Ano1962\Edição 00187 (1)  14 de setembro de 1962




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