Um programa sobre cultura local com foco em documentar histórias e memórias de moradores do bairro Rudge Ramos. Através do que produzem como arte, comércio e economia criativa, buscamos desvelar personagens e a memória do bairro. O intuito é agrupar personagens que tenham uma atividade em comum, cujo objeto será tema de nosso programa em estúdio: Programa Mesa Brasil – Culinária - Esfiha
NOTA
Programa Mesa Brasil – Culinária - Esfiha
Trabalho apresentado à disciplina de Práticas de Produção para TV e InternetFotografia, como requisito parcial de avaliação, sob orientação do professor Geraldo Ribeiro, do CAV – Centro de Audiovisual de São Bernardo do Campo.
FICHA TÉCNICA
Roteiro — Danielle Rezera
Direção — Agenor Bevilacqua e Michele Nascimento
Direção de Fotografia — Isabel Peron, Michele Nascimento
Elenco
Apresentadora — Danielle Rezera
Repórter 1 — Agenor Bevilacqua
Repórter 2 — Larissa Duarte
Produção — Agenor Bevilacqua, Danielle Rezera, Isabel Peron, Larissa Duarte
Direção de Arte — Danielle Rezera
Operadora de Câmera — Isabel Peron, Michele Nascimento, Verônyca Martins
A Morte do Leiteiro, baseado no poemaMorte do leiteiro,
de Carlos Drummond de Andrade - VÍDEO
Carlos Drummond de Andrade
A Morte do Leiteiro
Trecho do Roteiro de Danielle Rezera
LEITEIRO
O quê?... Não entendo... O que aconteceu? (PAUSA LONGA) Saí às 3h da manhã de casa para trabalhar... Às 4h, já estava na bicicleta entregando o leite na casa de gente bacana que pode pagar... Com tanto trabalho, não consegui estudar para a prova de ontem... Estou exausto... (Pensa na mãe) Minha mãe, será que ela vai saber que não fiz nada?... Quem vai saber, se eu mesmo nem sei o que aconteceu aqui?
Morte do leiteiro [Carlos Drummond de Andrade]
Há pouco leite no país, é preciso entregá-lo cedo. Há muita sede no país, é preciso entregá-lo cedo. Há no país uma legenda, que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro de madrugada com sua lata sai correndo e distribuindo leite bom para gente ruim. Sua lata, suas garrafas e seus sapatos de borracha vão dizendo aos homens no sono que alguém acordou cedinho e veio do último subúrbio trazer o leite mais frio e mais alvo da melhor vaca para todos criarem força na luta brava da cidade.
Na mão a garrafa branca não tem tempo de dizer as coisas que lhe atribuo nem o moço leiteiro ignaro, morados na Rua Namur, empregado no entreposto, com 21 anos de idade, sabe lá o que seja impulso de humana compreensão. E já que tem pressa, o corpo vai deixando à beira das casas uma apenas mercadoria.
E como a porta dos fundos também escondesse gente que aspira ao pouco de leite disponível em nosso tempo, avancemos por esse beco, peguemos o corredor, depositemos o litro… Sem fazer barulho, é claro, que barulho nada resolve.
Meu leiteiro tão sutil, de passo maneiro e leve, antes desliza que marcha. É certo que algum rumor sempre se faz: passo errado, vaso de flor no caminho, cão latindo por princípio, ou um gato quizilento. E há sempre um senhor que acorda, resmunga e torna a dormir.
Mas este acordou em pânico (ladrões infestam o bairro), não quis saber de mais nada. O revólver da gaveta saltou para sua mão. Ladrão? se pega com tiro. Os tiros na madrugada liquidaram meu leiteiro. Se era noivo, se era virgem, se era alegre, se era bom, não sei, é tarde para saber.
Mas o homem perdeu o sono de todo, e foge pra rua. Meu Deus, matei um inocente. Bala que mata gatuno também serve pra furtar a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico, Polícia não bota a mão neste filho de meu pai. Está salva a propriedade. A noite geral prossegue, a manhã custa a chegar, mas o leiteiro estatelado, ao relento, perdeu a pressa que tinha.
Da garrafa estilhaçada, no ladrilho já sereno escorre uma coisa espessa que é leite, sangue… não sei. Por entre objetos confusos, mal redimidos da noite, duas cores se procuram, suavemente se tocam, amorosamente se enlaçam, formando um terceiro tom a que chamamos aurora.
ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. Rio de Janeiro: Record, 1945.
NOTA
Curta-metragem de até 3 minutos.
Trabalho apresentado à disciplina de Prática de Fotografia, como requisito parcial de avaliação, sob orientação do professor Fábio Tanaka, do CAV – Centro de Audiovisual de São Bernardo do Campo.