A Morte do Leiteiro, baseado no poema Morte do leiteiro,
de Carlos Drummond de Andrade - VÍDEO
LEITEIRO
O quê?... Não entendo... O que aconteceu? (PAUSA LONGA) Saí às 3h da manhã de casa para trabalhar... Às 4h, já estava na bicicleta entregando o leite na casa de gente bacana que pode pagar... Com tanto trabalho, não consegui estudar para a prova de ontem... Estou exausto... (Pensa na mãe) Minha mãe, será que ela vai saber que não fiz nada?... Quem vai saber, se eu mesmo nem sei o que aconteceu aqui?
Morte do leiteiro [Carlos Drummond de Andrade]
Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.
Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.
E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro…
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.
Meu leiteiro tão sutil,
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.
Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.
Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
Polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.
Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue… não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.
ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. Rio de Janeiro: Record, 1945.
NOTA
Curta-metragem de até 3 minutos.
Trabalho apresentado à disciplina de Prática de Fotografia, como requisito parcial de avaliação, sob orientação do professor Fábio Tanaka, do CAV – Centro de Audiovisual de São Bernardo do Campo.
FICHA TÉCNICA
Roteiro Danielle
Rezera
Direção Agenor
Bevilacqua
Direção de Fotografia Diego Fernandes
Elenco
Leiteiro Alegretti
Leiteiro substituto Alegretti
Proprietário João Miguel
Policial Vlademir Gomes
Pastor Cassiano Basaglia
Assistente de Direção Isadora Cavalcante
Isabel
Peron
Direção de Arte Izabella
Gonçalves
Assistente de Arte Danielle Rezera
Fotografia Cindy
Lima
Assistente de Câmera Isabel Peron
Gaffer Victor Douglas
Gabriela
Castioni
Som direto Isadora
Teixeira
Victor
Douglas
Verônyca
Letícia Souto Martins
Maquiagem e Figurino Larissa Duarte
Logger Cindy Lima
Edição Diego
Fernandes
Agenor
Bevilacqua
Isabel
Peron
Músicas A
Internacional
Letra: Eugène Pottier
Melodia: Pierre De Geyter
Bella
Ciao
Autoria anônima
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