Proposta de releitura de O três de maio de 1808 em Madrid, de Francisco de Goya.
Por Agenor Bevilacqua Sobrinho
O três de maio de 1808 em Madrid, de Francisco de Goya.
Guide de Fotografia
e/ou
Guide de Vídeo
Proposta de releitura
Fuzilamento midiático
1. Introdução
Imagens e filmes podem ser reproduzidos, com grau maior ou menor de fidelidade. Também podemos realizar releituras deles das mais distintas formas, em diferentes espaços/tempos.
No presente trabalho, propomos uma releitura de O três de maio de 1808 em Madrid [título original: Ejecución de los Defensores de Madrid, 03 de maio 1808], de Francisco de Goya, em sua fase de Romantismo, enveredando por temas sociais, políticos e históricos, a saber: a guerra, a violência, a insanidade e o sofrimento decorrente delas. Ademais, do referido estilo, a obra aqui estudada salienta, entre outras características, o contraste de luz e sombras.
No quadro original, a rebelião contra as elites retrógradas é intensamente reprimida.
Em nossa releitura, a não submissão aos ditames da “imprensa livre” — controlada pelas oligarquias da comunicação — é, da mesma maneira, intensamente alvo de perseguições (assassinato de reputações, cancelamentos, deturpações, fake news e uma série de expedientes utilizados para controlar vozes dissidentes).
2. Fundamentos
Partindo da imagem icônica O três de maio de 1808 em Madrid (1814), do pintor espanhol Francisco de Goya (1746-1828) — óleo sobre tela, dimensão 266 x 345 centímetros, cujo original encontra-se no Museu do Prado, em Madrid —, propomos realizar uma releitura ambientada no momento atual em que atiradores são as corporações oligopolizadas dos meios de comunicação, que muitas vezes são produtoras e/ou patrocinadoras de fake news, criando narrativas descompromissadas com o factual para endossar seus interesses ideológicos/políticos. Ao produzir desinformação, o pelotão midiático vitima a verdade, o relato factual, e cria confusão na cabeça das pessoas, induzindo-as a agir, paradoxalmente, contra os próprios interesses.
Na Espanha de três de maio de 1808 a revolta popular, motivada pela invasão da Espanha pelos exércitos de Napoleão e também pelo acumpliciamento da realeza espanhola, demonstrava, por um lado, a repulsa à elite local submissa a interesses estrangeiros, e, por outro lado, a necessidade de um governo soberano e ligado aos interesses nacionais e populares.
À época, a resposta francesa e das elites locais submissas foi a repressão brutal aos protestos, vitimando centenas de populares, além de 44 revolucionários fuzilados entre 2 e 3 de maio de 1808. Desse modo, afora o quadro abordado no presente trabalho, Goya ainda produziu O dois de maio de 1808 em Madrid (1814).
No Brasil, a imprensa, cujo trabalho seria informar, com frequência labora em sentido contrário, servindo na promoção de golpes de Estado (1964, 2016); tentativas de golpes (2005 e 2023); e na elaboração de realidades de um Brasil paralelo sem vínculos com o que de fato ocorre efetivamente no país.
Agora, os executores das ordens de fuzilamento são os prepostos das oligarquias midiáticas no país. Estas empresas pertencem a famílias bilionárias e instituições financeiras que se arrogam o direito de determinar quais devam ser os rumos do país, mesmo que essa elite antipopular e predatória não tenha legitimidade, porque destituída de votos e, como tal, sem representatividade da delegação popular.
3. Composição
Na obra de Goya, os soldados — de costas e sem identificação individual — defendem e representam a vontade da opressão. No muro, claramente identificáveis, estão perfilados os revolucionários aprisionados que serão sumariamente eliminados. Em destaque, de joelhos, um deles está de camisa branca, com as mãos para o alto e indefeso, e tem em suas mãos estigmas, aludindo à figura de Cristo e indicando a qualidade de mártires dos que no momento tombam pela repressão. Ademais, em virtude do fechamento de conventos e da extinção da Inquisição naquelas circunstâncias, a Igreja voltou-se contra Napoleão e, em alguma medida, apoiou dos púlpitos os insurgentes. Daí, temos no quadro, na primeira fileira dos alvos, um freire ajoelhado e, no breu do fundo, uma igreja.
A luz do quadro de Goya é quase natural, representando o 3 de maio de 1808 à noite para conferir-lhe maior dramaticidade com os contrastes de luz e sombras, embora o fato ocorrera durante o dia.
Em nossa releitura, os soldados/prepostos são identificados não de forma individual, mas institucionalmente pelos logotipos da grande imprensa. Em pé, um ativista social, vestido de camiseta branca com a inscrição “Pela regulação das mídias”, empunha em sua mão esquerda um celular filmando a barbárie de que ele e seus companheiros são vítimas. Espalmada para baixo, a outra mão aponta indignada para os já tombados, sinalizando a necessidade de frear o massacre midiático. Diferentemente da ligação religiosa no quadro de Goya, nossa poética da imagem fotográfica tem um conteúdo laico, que expõe a brutalidade do ataque em curso sem recorrer a metáforas metafísicas.
Os demais revolucionários, igualmente alvos de forças assimétricas, carregam celulares e máquinas fotográficas que também registram as atrocidades em tempo real. Dos insurretos em pé, nota-se a determinação, a consciência social e política de sempre lutar pelas liberdades. Jazem no chão os primeiros fuzilados; eles também enfrentaram com destemor o mesmo pelotão midiático, tendo sofrido ações de cancelamento impiedosas, calúnias e difamações de toda natureza.
O fundo da fotografia, atrás dos revolucionários, é o de uma avenida de uma grande cidade, com prédios estilizados nas sombras. No fundo central, no breu, uma banca de jornais — em substituição à igreja da imagem original —, iluminada por uma lamparina revela os jornais dependurados que ostentam manchetes não do linchamento midiático diuturnamente operado pelos diferentes canais dos mesmos donos, mas a reafirmação de falsificações da realidade. Em 1964 e durante o regime imposto pelo golpe de 1964: “Mar de lama.” Agora: “Mar de lama.” A diferença é a fonte tipográfica.
4. Luz
A luz de nossa poética fotográfica é composta por um tom amarelado (com um Fresnel direto e outro rebatido no teto — caso a foto/vídeo seja em estúdio — para subexposição, além de uso de filtros, denotando a recorrência aos mesmos expedientes ardilosos das classes dominantes contra os interesses das classes populares.
O personagem rebelde de camiseta branca está destacado pela intensidade adicional de luz sobre ele, com um monoled. Utiliza-se, ainda, uma lamparina direcionada a ele e visível no solo, ou seja, como objeto de cena.
Evocando a pintura original de Goya, a cena é construída numa paleta que expressa a situação sombria e evidencia os contrastes dos dois grupos com contornos de luz e sombras.
Nossa releitura homenageia a emblemática luta pela liberdade no século XIX, criada por Goya, e, ao mesmo tempo, recontextualiza a mesma peleja que trabalhadores constantemente são obrigados a enfrentar nas disputas com aqueles que se comportam como os donos do mundo.
5. Paleta de cores
Tons bege e branco: rebelde em destaque — remetem à transparência, à pureza; servem para iluminar e destacar o personagem e seus ideais.
Cinza, marrom e preto - intensifica a sensação de obscuridade, medo, tristeza. Cor contrastante ao personagem em destaque de luz, que se mostra de cara aberta, criando antagonismo em relação aos soldados sem faces, executores de ordens vis de seus patrões.
A escuridão do céu acentua a cena cruel e perturbadora.
6. Enquadramento das personagens e ângulo de câmera
Plano geral a partir de um ângulo normal, ou seja, o observador está posicionado de acordo com as balizas e delineamentos das personagens do quadro original de Goya. O personagem rebelde, de camiseta branca, está destacado na primeira fileira, no grupo à esquerda.
7. Adereços/objetos de cena
a) Figurinos de soldados/prepostos da imprensa oligárquica: uniformes corporativos e identificados com as logomarcas das empresas;
b) Adereços empunhados pelos prepostos: jornais com a aparência/feitio de armas, simbolizando o poderio econômico-político dessa imprensa;
c) Jornais com manchetes distorcidas afixadas no exterior da banca de jornal;
d) Os mesmos jornais, agora reescritos pelos rebeldes, espalhados pelo chão;
e) Figurinos de rebeldes contra a imprensa oligárquica: camisetas e calça jeans, sapatos esportivos e tênis;
f) Adereços dos rebeldes: faixas, cartazes, celulares, tablets.
8. Equipamentos necessários
a) Câmera Canon SL3
b) Tripé de câmera
c) Cartão de memória de 64gb
d) 2 Bateria da câmera
e) Lente Série L 24/70
f) Lente Série L Prime Fixa 50mm
g) 2 difusores de luz
h) 3 tripés de luz
i) 2 spots Fresnel (sendo 1 com temperatura de 3200K e o outro com 5200k)
j) 1 monoled 200W
k) 3 Bandoor
l) 1 lamparina
m) Cabos
n) 4 Extensões
9. Especificações técnicas
Setup da câmera:
Diafragma 5.6
ISO 400
Frame rate 30 fps
Shutter speed 1/60
Balanço de branco: de 3200 a 5200k (testar)
Estilo de imagem: Neutro
Na pós-produção, editar a imagem e inserir miniaturas de jornais afixados nas bancas
Composição a partir de releitura.
Fotografia em cores e em preto e branco.
Vídeo de 30 segundos.
1080p, 25fps, obturado em 1/50, Pal, Neutro, iluminação 3200 a 5200k
10. Planta baixa
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