Manifesto pela valorização
da leitura de textos teatrais
Diferentemente de outros gêneros
narrativos, como o conto, o romance, a poesia e os demais de ficção, os textos teatrais
têm, de modo geral, pouco espaço nas prateleiras dos leitores e leitoras
brasileiros. Segundo a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, de 2020, uma
correalização entre Instituto Pró-livro e Itaú Cultural, “dramaturgia” sequer
consta na lista de gêneros que os leitores costumam ler, relegada, muitas
vezes, à categoria “outros”. Os motivos para este fato são diversos, e
interpelam diariamente aqueles que, como nós, editam dramaturgia e/ou teoria e
crítica de teatro.
Publicar dramaturgia é, em primeiro
lugar, um ato de preservação, uma tentativa de capturar ao menos parte dos
efêmeros e únicos espetáculos montados nos palcos pelo mundo, de forma
expandida e atenta. É presenciar o diálogo entre a literatura e as artes
cênicas, a música, o cinema e os outros tantos meios artísticos existentes. É
incitar o público-leitor a ampliar seu contato com as artes e formar
espectadores. Sem a publicação de dramaturgia, torna-se inviável desenvolver
seu potencial caráter formativo, uma vez que as bibliotecas carecem desses
livros, e por consequência, os professores e os estudantes ficam sem acesso. O
livro de teatro é o registro de uma característica intrinsecamente humana, o
seu caráter social, um registro do que afirma o dramaturgo francês Jean-Paul
Alègre sobre o teatro: “o lugar em que não se pode prescindir do outro”.
Apesar da importância e da
complexidade cultural das publicações de textos teatrais, ainda hoje nota-se
uma lacuna de publicações do gênero no mercado editorial brasileiro, a qual não
se limita aos catálogos das editoras, mas também é verificada na imprensa, nas
livrarias, nos editais governamentais, nos programas de fomento, ou em grandes
prêmios do universo do livro, como o Jabuti, maior prêmio literário do país,
que não contempla a categoria dramaturgia.
Diante desse cenário, e para
demonstrar solidariedade aos dramaturgos e dramaturgas, diretores e diretoras,
atores e atrizes e aos coletivos teatrais e demais profissionais e
personalidades envolvidos no teatro, que, desde 2020, têm enfrentado o
agravamento de seu cotidiano de trabalho e a frustrante falta de perspectiva,
uma vez que talvez seja uma das últimas atividades a voltar ao seu status
anterior - e ainda assim, para sempre modificado -, nos unimos hoje para
celebrar o Dia Internacional do Teatro com um apelo: leiam teatro e fortaleçam
seu esforço de publicação, comprando e divulgando livros do gênero.
As seguintes editoras assinam este manifesto:
7Letras
| Cia Fagulha | Cobogó
Editora UFPR | Glac
Edições
Grua Livros | Hucitec
| Javali
Patuá | Perspectiva | Temporal
Parabéns pelo Manifesto.
ReplyDeleteAcrescentaria a essa carência estrutural a falta de disposição para publicar traduções de dramaturgia em nosso mercado editorial, quase que resumido nesse sentido a Shakespeare e Brecht.