Auto dos 99% e Brasil, versão brasileira. Por Maria Sílvia Betti
Auto dos 99%. Ou como a Universidade capricha no subdesenvolvimento. (1962)
Autoria coletiva.
Os autos foram os trabalhos teatrais mais representativos em relação às propostas do setor de teatro do então recém-fundado CPC. Além de serem apresentados em espaços não convencionais, como sindicatos e grêmios estudantis, tratavam de questões urgentes da pauta política nacional e internacional, tinham estrutura episódica com uso de músicas e de humor como recursos críticos, e apresentavam grande flexibilidade, podendo incorporar pequenas adaptações necessárias aos diferentes contextos em que os autos eram apresentados.
Em 1962 a UNE estava empenhada em conseguir 1/3 de representação de estudantes nos colegiados universitários, e em pleitear condições reais de acesso ao ensino superior por parte da classe trabalhadora, além de realizar a crítica do elitismo da Universidade e sua incapacidade de dialogar com os desafios do país.
O Auto dos 99% trata de questões que apresentam afinidade com as que podem ser encontradas, embrionariamente, na peça “A pipa de Diógenes”, que Vianinha e Guarnieri haviam escrito a quatro mãos em 1953, quando ainda eram estudantes e militavam na União da Juventude Comunista.
A discussão deste “Auto” nos coloca diante de um enquadramento crítico da historiografia oficial do Brasil, tratando centralmente da dependência e da questão do papel da educação diante do momento histórico de grandes transformações que o país atravessava.
Brasil, versão brasileira
Concluída nesse mesmo ano de 1962, Brasil versão brasileira é uma peça criada para encenação em espaço teatral com palco e estrutura para projeção de slides. Além de contextualizar a relação de dependência do Brasil diante das imposições do imperialismo estadunidense, a peça trata da questão do petróleo, e apresenta um painel amplo das lideranças de esquerda em suas duas facções, uma ligada à militância católica ligada à Ação Popular (AP), e a outra ligada ao PCB
A peça faz uso de recursos cênicos como a projeção de manchetes de jornais, a ironia na contraposição de imagens projetadas, o uso de coro e de voz narrativa em off.
Um dos aspectos importantes de “Brasil, versão brasileira” é a posição crítica de Vianinha diante da ideia, postulada pelo PCB, de que existia uma facção progressista na burguesia nacional, e que esta devia ser apoiada na luta contra o imperialismo.
Embora Vianinha nunca tenha rompido com o Partido, a peça apresenta sem meias tintas a posição crítica defendida por ele nesse tenso momento do país, apenas dois anos anterior à deflagração do golpe e à instalação da ditadura.
SEGUNDO ENCONTRO: REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
CALDAS,
Ana Carolina. Centro Popular de Cultura
no Paraná (1959-1964). Encontros e desencontros entre arte, educação e política.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade
Federal do Paraná, 2003.
CARDENUTO
FILHO, Reinaldo. Discursos de intervenção: o cinema de propaganda ideológica para o
CPC e o Ipês às vésperas do Golpe de 1964. Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, 2008.
FREITAS,
Natália Santos. As reformas da
universidade pública brasileira e o movimento estudantil: uma abordagem discursiva. Universidade
Federal de Alagoas. Centro de Educação. Programa de Pós-Graduação em
Educação Brasileira. Maceió, 2010.
LIMA,
Eduardo Luís Campos. O Auto dos 99% - O Centro Popular de
Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC da UNE) e a mobilização
estudantil. Revista Crioula – n. 10 – Novembro de 2011.
RAMOS,
Carla Michele. Teatro Político Cepecista: o
Auto dos 99% como peça de agitação e propaganda. Espaço Plural -
Marechal Cândido Rondon, Ano VII, n. 15, 2º Semestre 2006. - ISSN 1518-4196.
RIDENTI,
Marcelo. Cultura e Política – Entrevista
Com Ferreira Gullar. Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo
– Dossiê, Maio de 2012 – ISSN 1679-849X. Literatura e Autoritarismo Dossiê
Artistas e Cultura em Tempos de Autoritarismo.
SOUSA,
Alexandre Ricardo Lobo de. O teatro no Centro Popular de Cultura da
União Nacional dos Estudantes. O povo,
a nação o imperialismo e a revolução (1961-1964). Programa de Pós-Graduação
em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Dissertação de
Mestrado, orientada pelo Prof. Dr. César Luís Barcellos Guazzelli. 2001.
TORRES,
Carla Michele Ramos. Em cena o Teatro no Centro Popular de Cultura da União
Nacional dos Estudantes (CPC da UNE) 1961-1964. Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rondon. Dissertação de
Mestrado em História. Orientadora Profª. Drª. Geni Rosa Duarte.
INTERNET
MÉLO, Cristiane Silva;
MACHADO, Maria Cristina Gomes. Apontamentos de Álvaro Vieira Pinto à reforma
universitária no Brasil na década de 1960. Revista HISTEDBR On-line,
Campinas, SP, v. 13, n. 53, p. 263–279, 2014. DOI: 10.20396/rho.v13i53.8640204.
Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8640204 .
Acesso em: 29 jun. 2024
http://forumeja.org.br/df/sites/forumeja.org.br.df/files/autodos99.pdf
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/player.php?id=17838
https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=psYGSyrLp2I
HEMEROTECA
DIGITAL DA BIBLIOTECA NACIONAL
http://memoria.bn.gov.br/DocReader/122831/822
Ciclo de encontros quinzenais online
ODUVALDO VIANNA FILHO [1936-1974]:
dramaturgia, pensamento estético e luta política.
Inscrições gratuitas
https://forms.gle/58jmwmc2JXdMf23s7
05 de julho – Auto dos 99%. Ou como a Universidade capricha no subdesenvolvimento e Brasil versão brasileira
https://www.youtube.com/watch?v=w1QWLElhkbo&t=1s
21 de junho – Chapetuba Futebol Clube e A mais valia vai acabar, seu Edgar
https://www.youtube.com/watch?v=5pHJ0U7l5ic&t=6s
Apoio: Blog da Cia. Fagulha
https://blogdaciafagulha.blogspot.com/
Realização:
https://www.ciafagulha.com.br/
No comments:
Post a Comment