A longa noite de Cristal. Por Maria Sílvia Betti
A longa noite de Cristal (1969)
Peça em dois atos escrita em 1969, A longa noite de Cristal trata da consolidação da TV, no contexto da ditadura, como meio de comunicação controlado pelo Estado e atrelado aos interesses mercadológicos de patrocinantes.
O protagonista é Celso Gagliano, um veterano locutor de telejornalismo que havia se tornado famoso, nas décadas precedentes, por seu trabalho no rádio. Seu apelido, Cristal, descreve a qualidade sonora do timbre vocal que o havia consagrado. Sua tarimba como locutor desenvolveu-se numa uma época em que era possível dar furos de reportagem após contato direto com muitos dos acontecimentos que iam ao ar.
No presente, sem qualquer visão crítica sobre as condições de trabalho vigentes na TV, Cristal dá um furo noticioso no ar e sem consulta prévia ao diretor do Departamento de Telejornalismo: trata-se do relato de uma cena chocante presenciada a caminho da emissora, e que acaba por desencadear sua “longa noite” de adversidades.
De forma indireta, A longa noite de Cristal remete ao episódio envolvendo a demissão, dos quadros da Rede Globo, do consagrado locutor Luiz Jatobá (1915-1982), vítima de perseguição política severa no contexto da ditadura. Nas décadas precedentes Jatobá tinha tido participação de destaque não só na primeira edição do noticioso oficial A Voz do Brasil, que estreara em 1935 durante o governo Vargas, mas também no Repórter Esso, famoso programa de radiojornalismo (depois levado também à TV), e ainda no primeiro formato do programa telejornalístico Jornal da Globo, que estreara em 1967, e que permaneceria no ar até o mesmo ano de criação da peça por Vianna, 1969, quando foi substituído pelo Jornal Nacional.
A longa noite de Cristal faz largo uso da experimentação de recursos, principalmente no que diz respeito às representações de espaço e tempo. A estrutura espaço-temporal rompe com o padrão realista. A luz, elemento para o qual a dramaturgia de Vianna dedica sempre um papel importante, demarca áreas cênicas específicas, diferenciando também passado e presente. A linha do tempo avança e recua em saltos, como observa a rubrica inicial, com cenas do presente dramático e do passado.
Ao abordar a TV em “A longa noite de Cristal”, Vianna dá sequência ao aprofundamento crítico de questões ligadas ao setor específico do jornalismo, campo que já havia antes discutido em “Moço em Estado de Sítio”, de 1965, e em “Mão na Luva”, de 1966.
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ODUVALDO VIANNA FILHO [1936-1974]:
dramaturgia, pensamento estético e luta política.
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16 de agosto – Moço em estado de sítio e Mão na luva
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