Corpo a corpo e Allegro desbundaccio. Por Maria Sílvia Betti
Corpo a corpo (1970)
“Corpo a corpo” coloca em foco as duas opções inconciliáveis que se apresentam para a classe média de esquerda nos anos que se seguem ao golpe de 1964: aderir às formas de promoção profissional apoiadas no chamado “milagre econômico”, ou repudiá-las, mantendo-se coerente com o pensamento político que inspirava seus sonhos e ideais.
O conjunto de medidas implantadas com a política econômica no pós-golpe havia fomentado o crescimento, abrindo o país para o influxo de capitais estrangeiros, abandonando os programas sociais do Estado e impondo uma superexploração do trabalho.
Ao expor em cena a noite de angústias existenciais e afetivas do publicitário Luiz Toledo Vivacqua, “Corpo a corpo” expõe também sua divisão interior e todas as racionalizações e repactuações em que ele incorre, assim como a verbalização de suas fantasias e tentativas de enfrentamento.
Allegro desbundaccio ou se o Martins Pena fosse vivo (1973)
Tal como Luiz Toledo Vivacqua, protagonista de “Corpo a corpo”, Buja, o protagonista de “Allegro desbundaccio”, é um publicitário de grande sucesso profissional que deseja romper com o mundo competitivo em que trabalha por sabê-lo incompatível com seus sonhos e expctativas de vida.
Escrita em 1973, “Allegro desbundaccio” faz, em seu subtítulo, remissão direta ao trabalho do grande criador da comédia de costumes nacional, ressaltando assim a ideia implícita de que a peça se propunha a assumir diante de seu tempo uma representatividade análoga à das comédias de Martins Pena no século XIX.
O neologismo “desbundaccio”, criado a partir do sufixo italiano accio, de carga semântica pejorativa, remete ao termo de gíria “desbunde”, associado aos comportamentos e opções existenciais de todos os que, no contexto dos anos 1970, identificavam-se com a contracultura e preferiam afastar-se das formas militantes de luta e de arte no campo da esquerda.
Tanto quanto em “Corpo a corpo”, “Allegro desbundaccio ou se o Martins Pena fosse vivo” ilustra o empenho de Vianna em não perder de vista as questões do país dentro do contexto social vigente.
Por imposição da censura, “Allegro desbundaccio ou se o Martins Pena fosse vivo” teve seu título alterado para “Allegro Desbum”, alteração que os censores aceitaram e com que foi encenada com grande sucesso no Rio de Janeiro e em São Paulo.
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