Fagulha Entrevista - Maria Aparecida de Aquino - A vitória de Trump e suas consequências

 

Fagulha Entrevista

Maria Aparecida de Aquino

A vitória de Trump e suas consequências





Entrevista ao vivo - 19/11/2024, terça-feira, às 11h



Fagulha Entrevista - Política internacional

 

Entrevista Maria Aparecida de Aquino (Historiadora-USP)

para dialogar sobre as principais questões da Política internacional.


TEMAS

·         Eleições presidenciais nos Estados Unidos 2024

 O significado da vitória de Trump e as consequências para o Brasil e o mundo   

 E demais questões enviadas pelos/as internautas.

 

 

*Maria Aparecida de Aquino, historiadora, é professora titular aposentada da Faculdade de História da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

 

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Fagulha Entrevista - Flávio Aguiar - A vitória de Trump e suas consequências

Fagulha Entrevista

Flávio Aguiar

A vitória de Trump e suas consequências





Entrevista ao vivo - 08/11/2024, sexta-feira, às 14h




Fagulha Entrevista - Política internacional

 

Entrevista Flávio Aguiar

para dialogar sobre as principais questões da Política internacional.


TEMAS

·         Eleições presidenciais nos Estados Unidos 2024

 O significado da vitória de Trump e as consequências para o Brasil e o mundo   

 E demais questões enviadas pelos/as internautas.

 

 

*Flávio Aguiar, jornalista e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo). [https://amzn.to/48UDikx]

 

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Rasga Coração. Por Maria Sílvia Betti

 

Rasga Coração. Por Maria Sílvia Betti








Rasga Coração (1972-1974)

 

A leitura histórica do país construída em Rasga Coração fundamenta-se na ideia exposta por Vianna no pequeno texto de apresentação da peça: o “novo” não é necessariamente revolucionário, e o verdadeiramente revolucionário não é necessariamente “novo” em suas estratégias e metas. O “velho” de hoje e o “novo” de ontem relacionam-se num jogo temporal de simultaneidades e de sequências cênicas, ora aproximando-se pela analogia, ora distanciando-se pelas contradições.

O fio histórico que perpassa a estrutura de Rasga Coração representa um corte transversal ao longo de setenta anos da vida do país sob o prisma das lutas políticas travadas pela esquerda — entenda-se que a esquerda, no caso, é vista a partir do percurso do PCB, personificado na perspectiva de Manguari Pistolão, o protagonista, e de seu camarada Camargo Velho, que abrira mão da própria juventude em prol do empenho pela luta política dentro do partido.

A peça acompanha o processo de declínio das oligarquias rurais e da Primeira República, no início do século XX, a crise de 1929, a ascensão do Tenentismo em meados dos anos 1920, a queda de Washington Luís, em 1930, o Estado Novo, instituído em 1937, a Intentona Comunista, de 1935, o Levante Integralista, de 1938, o processo de industrialização nos anos 1940, a implantação das leis trabalhistas, a campanha pelo petróleo, no início da década de 1950 e finalmente a época da ditadura civil-militar e da contracultura na década de 1970.

 

 

PLAYLIST RASGA CORAÇÃO - Editora Temporal

https://www.youtube.com/playlist?list=PLN_ojX50FvlgOKzCeQej1ZZsKqcRXnXFX

 

CHOROS N. 10 DE VILLA LOBOS (Destaque para a valsa RASGA O CORAÇÃO, de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense, a partir da minutagem 6.58)

https://www.youtube.com/watch?v=VZjv4l9IUuw



Ciclo de encontros quinzenais online

ODUVALDO VIANNA FILHO [1936-1974]:

dramaturgia, pensamento estético e luta política.


Inscrições gratuitas

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25 de outubro – Rasga Coração

https://www.youtube.com/watch?v=gAmfLidCNDo

 

11 de outubro – Nossa vida em família

https://www.youtube.com/watch?v=aCogisLYfFA

 

27 de setembro – A longa noite de Cristal

https://www.youtube.com/watch?v=R_RF8GQnUk0

 

13 de setembro – Corpo a corpo Allegro desbundaccio

https://www.youtube.com/watch?v=mBA0qhjklEo

 

30 de agosto – Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex e Papa Highirte

https://www.youtube.com/watch?v=YYMduFt5MCU  

 

16 de agosto – Moço em estado de sítio e Mão na luva

https://www.youtube.com/watch?v=ULh55cdgVjE

 

02 de agosto — Show Opinião e Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

https://www.youtube.com/watch?v=JYCZmcAEwWs

 

19 de julho — Quatro quadras de terra e Os Azeredo mais os Benevides

 https://www.youtube.com/watch?v=G4g050M3ByU

 

05 de julho – Auto dos 99%. Ou como a Universidade capricha no subdesenvolvimento e Brasil versão brasileira

https://www.youtube.com/watch?v=w1QWLElhkbo&t=1s

 

21 de junho – Chapetuba Futebol Clube e A mais valia vai acabar, seu Edgar

https://www.youtube.com/watch?v=5pHJ0U7l5ic&t=6s

 

 

 

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Dramaturgia e luta política nos anos 1960 e 1970: o trabalho de João das Neves (1934-2018) e de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) - Disciplina de Pós-graduação. Parte 2 - Por Maria Sílvia Betti

 

Dramaturgia e luta política nos anos 1960 e 1970:

o trabalho de João das Neves (1934-2018) e de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974)


PARTE 2 da disciplina de pós-graduação do Programa de Artes Cênicas da ECA USP 

Ministrante Profª. Drª. Maria Sílvia Betti  

 

Sextas-feiras das 9h às 12h

 

PRESENCIAL: Edifício Antonio Cândido (PRÉDIO DE LETRAS) DA FFLCH USP, Sala 134, Cidade Universitária Campus do Butantã

 

ONLINE: Enviar número de celular e e-mail informando interesse

Whatspp (11) 99374 - 2566

 

A DRAMATURGIA DE ODUVALDO VIANNA FILHO

 

Aula 10- (18 de outubro). Discussão da peça “Se correr o Bicho pega, se ficar o Bicho come”.

 

Aulas 11 - (25 de outubro) “Papa Highirte” (1968).

 

Aula 12 – (01 de novembro). “A longa noite de Cristal” (1972)

 

Aula 13 – 0(8 de novembro). “Nossa vida em família”. (1971-1972)

 

Aula 14 - (22 de novembro). “Rasga Coração” (1974).

 

Aula 15 – (29 de novembro) Debate final.

 

PROGRAMA, BIBLIOGRAFIA E ACESSO LIVRE AOS TEXTOS PELO MOODLE ABERTO DA DISCIPLINA:

https://edisciplinas.usp.br/course/view.php?id=121269#section-10



Nossa vida em família. Por Maria Sílvia Betti

 


Nossa vida em família. Por Maria Sílvia Betti







Nossa vida em família (1971)

 

 Nossa vida em família, de 1971, é a reelaboração de Vianna para a peça “Em família”, que havia escrito em 1970 em conjunto com Paulo Pontes e Ferreira Gullar.

Relações familiares e intergeracionais tinham se feito presentes, em alguma medida, em três de suas peças anteriores: “Brasil versão brasileira” e “Quatro quadras de terra”, escritas no início dos anos 1960 dentro do CPC, e “Moço em estado de sítio”, de 1965, que permanecera inédita. Nos anos seguintes, Vianna assumiria (juntamente com Armando Costa), a autoria do seriado televisivo “A grande família”, que se tornaria um sucesso de público sem precedentes. A família voltaria a ser abordada em sua última peça, “Rasga Coração”, cujo núcleo central enfoca as vivências históricas e políticas da família de um militante do Partido Comunista Brasileiro.

 Nossa vida em família expõe e analisa o processo de estrangulamento social e econômico da pequena classe média brasileira, ou seja, a classe que se tornara refém das políticas habitacionais do chamado “milagre econômico” do início dos anos 1970. As estruturas existentes de sobrevivência familiar, dentro desse contexto, não asseguram qualquer proteção contra a marginalização dos idosos, a redução das expectativas de futuro profissional para os mais jovens, e as medidas governamentais orientadas para a exploração da classe trabalhadora. Sem dispor de mecanismos que a protejam das pressões sociais que sofre ao longo das gerações, os membros da família em questão acabam por apelar para soluções provisórias e precárias que, uma vez postas em prática, serão de difícil e improvável reversão.

No centro do enredo o casal de idosos Sousa e Lu, moradores de Miguel Pereira, no Rio de Janeiro, precisam desocupar a casa que alugam por um preço simbólico há mais de trinta anos. Os escassos ganhos mensais de Sousa como aposentado são insuficientes para que ele assuma um novo contrato, mesmo em imóveis muito mais precários e distantes. Os filhos, envolvidos com a luta pela sobrevivência em suas respectivas famílias, têm limitações de espaço e de orçamento, e optam por uma temporária divisão de responsabilidades: Sousa vai para o apartamento da filha caçula, Cora, em São Paulo, e Lu para o apartamento do mais velho, Jorge, no Rio de Janeiro. Sousa e Lu são, assim, separados um do outro e submetidos a rotinas familiares que os fazem constatar a perda de seus papéis dentro do microcosmo familiar.

A situação se agrava com o passar dos meses, e revela a forma como cada um dos filhos, involuntariamente, reproduz, em suas condutas, a lógica do sistema que exclui Sousa e Lu do mundo produtivo, transformando-os em sucata afetiva diante da família e da sociedade.

A “família” não dispõe de mecanismos que a protejam das pressões econômicas e sociais que sofre e que vai introjetando ao longo das gerações. Essas pressões, naturalizadas e assimiladas, acabam por se impor através de medidas que, mesmo provisórias, serão de difícil e improvável reversão depois de adotadas.

A grande envergadura da pauta de assuntos da peça, tomados ao contexto das políticas econômicas da ditadura, extrapola os limites do drama geracional padrão, e apresentava uma forte demanda de recursos dramatúrgicos como a ironia, o humor, e a simultaneidade espacial de cenas que criem nexos associativos e contrastivos sem que se dilua o fio da meada ficcional do enredo. A estrutura dos diálogos e a utilização de diferentes níveis de linguagem ilustram as numerosas defasagens de comunicação e de percepção no interior da família.

Nossa vida em família é uma peça de referência, imprescindível para a discussão da dramaturgia de Oduvaldo Vianna Filho em seu aspecto mais pulsante: a análise e o debate de alguns dos mais importantes desafios que herdamos das décadas anteriores e diante dos quais ainda nos vemos no momento atual.

 

 

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27 de setembro – A longa noite de Cristal

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13 de setembro – Corpo a corpo Allegro desbundaccio

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30 de agosto – Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex e Papa Highirte

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16 de agosto – Moço em estado de sítio e Mão na luva

https://www.youtube.com/watch?v=ULh55cdgVjE

 

02 de agosto — Show Opinião e Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

https://www.youtube.com/watch?v=JYCZmcAEwWs

 

19 de julho — Quatro quadras de terra e Os Azeredo mais os Benevides

 https://www.youtube.com/watch?v=G4g050M3ByU

 

05 de julho – Auto dos 99%. Ou como a Universidade capricha no subdesenvolvimento e Brasil versão brasileira

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Fagulha Entrevista - Maria Aparecida de Aquino - Historiadora-USP - Eleições 2024 e extrema-direita

 

Fagulha Entrevista

Maria Aparecida de Aquino - Historiadora-USP

Eleições 2024 e extrema-direita




Fagulha Entrevista: Maria Aparecida de Aquino

 


 

Fagulha Entrevista - Eleições 2024

 

Entrevista Maria Aparecida de Aquino - Historiadora-USP

para conversar sobre as eleições de 2024 e a extrema-direita.

 

TEMAS

·         Eleições 2024

·         Análise

·         Extrema-direita

·         08/01/2023

·         Bolsonarismo, bolsonarismo sem Bolsonaro

·         E demais questões enviadas pelos/as internautas.

 


#Eleições2024

#Brasil

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A longa noite de Cristal. Por Maria Sílvia Betti


A longa noite de Cristal. Por Maria Sílvia Betti






A longa noite de Cristal (1969)

 

Peça em dois atos escrita em 1969, A longa noite de Cristal trata da consolidação da TV, no contexto da ditadura, como meio de comunicação controlado pelo Estado e atrelado aos interesses mercadológicos de patrocinantes.

O protagonista é Celso Gagliano, um veterano locutor de telejornalismo que havia se tornado famoso, nas décadas precedentes, por seu trabalho no rádio. Seu apelido, Cristal, descreve a qualidade sonora do timbre vocal que o havia consagrado. Sua tarimba como locutor desenvolveu-se numa uma época em que era possível dar furos de reportagem após contato direto com muitos dos acontecimentos que iam ao ar.

No presente, sem qualquer visão crítica sobre as condições de trabalho vigentes na TV, Cristal dá um furo noticioso no ar e sem consulta prévia ao diretor do Departamento de Telejornalismo: trata-se do relato de uma cena chocante presenciada a caminho da emissora, e que acaba por desencadear sua “longa noite” de adversidades.

De forma indireta, A longa noite de Cristal remete ao episódio envolvendo a demissão, dos quadros da Rede Globo, do consagrado locutor Luiz Jatobá (1915-1982), vítima de perseguição política severa no contexto da ditadura. Nas décadas precedentes Jatobá tinha tido participação de destaque não só na primeira edição do noticioso oficial A Voz do Brasil, que estreara em 1935 durante o governo Vargas, mas também no Repórter Esso, famoso programa de radiojornalismo (depois levado também à TV), e ainda no primeiro formato do programa telejornalístico Jornal da Globo, que estreara em 1967, e que permaneceria no ar até o mesmo ano de criação da peça por Vianna, 1969, quando foi substituído pelo Jornal Nacional.

A longa noite de Cristal faz largo uso da experimentação de recursos, principalmente no que diz respeito às representações de espaço e tempo. A estrutura espaço-temporal rompe com o padrão realista. A luz, elemento para o qual a dramaturgia de Vianna dedica sempre um papel importante, demarca áreas cênicas específicas, diferenciando também passado e presente. A linha do tempo avança e recua em saltos, como observa a rubrica inicial, com cenas do presente dramático e do passado.

Ao abordar a TV em “A longa noite de Cristal”, Vianna dá sequência ao aprofundamento crítico de questões ligadas ao setor específico do jornalismo, campo que já havia antes discutido em “Moço em Estado de Sítio”, de 1965, e em “Mão na Luva”, de 1966.

 

 

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Análise - situação econômica da Alemanha, locomotiva da região, representa uma ameaça para a Europa? Por Flávio Aguiar

 

Análise: situação econômica da Alemanha, locomotiva da região, representa uma ameaça para a Europa? Por Flávio Aguiar


Será a Alemanha uma ameaça para o restante da Europa? Calma: não estou falando de uma guerra, embora graças ao conflito na Ucrânia muitos países do continente, inclusive a Alemanha, estejam aumentando seus orçamentos militares. Estou falando de um outro campo de batalha: a economia.

 

Na semana passada uma parte de uma das principais pontes da cidade de Dresden, na província da Saxônia, quebrou-se durante a madrugada e desabou no rio Elba. Equipes de engenharia passaram o fim de semana trabalhando febrilmente para remover os destroços, pois teme-se uma inundação com a cheia do rio, graças a intensas chuvas e neve precoce em sua cabeceira e sobre alguns de seus afluentes.

Ouvi no rádio o comentário de um economista dizendo que esta era uma metáfora perfeita para a economia alemã. Esta vem desabando e a queda vem provocando um efeito cascata no continente, devido ao fato de que muitos outros países dependem das importações da e exportações para a Alemanha, cuja economia ainda é a mais forte da Europa.

Depois de um longo período de prosperidade no começo do século XXI, os problemas da economia alemã começaram com a pandemia da COVID-19, que afetou seriamente o comércio, os serviços e os transportes. De início pequenos e médios estabelecimentos fecharam suas portas e, em seguida, a crise chegou às grandes lojas de departamentos. Para complicar mais a situação, uma parte dos consumidores acostumou-se a fazer compras pela internet. Os efeitos mais dramáticos da pandemia passaram, mas o hábito de comprar à distância não.

Guerra na Ucrânia agravou a situação

Até hoje grandes lojas estão fechando filiais pelo país afora. A situação se agravou com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A Alemanha aderiu ao fornecimento de armas, ao apoio financeiro ao governo de Kiev e às sanções econômicas contra a Rússia. Os gasodutos Nord Stream 1 e 2, este último em construção, que traziam o gás russo para a Alemanha foram sabotados em setembro de 2022, num episódio até hoje não esclarecido. Em consequência de todo este processo, o fornecimento do gás russo foi interrompido bruscamente, atingindo seriamente a indústria alemã, que começou a encolher.

Insumos agrícolas que vinham da Ucrânia também foram prejudicados pela guerra. O custo da energia subiu vertiginosamente, o dos alimentos também. A economia alemã se retraiu e o país se encontra agora à beira do abismo de uma recessão prolongada.

Segundo Franciska Palma, analista da londrina Capital Economics, a queda na economia alemã começou em 2018 e se agravou a partir de 2020 e depois de 2022, e não há sinais de pronta recuperação. Em 2023, a economia do país caiu em 0,3%. A previsão para 2024 é de crescimento zero. Apesar dos esforços do governo, a situação não deve melhorar em 2025.

Para responder à crise, Berlim deseja promover a biotecnologia, as tecnologias verdes, a Inteligência Artificial e as indústrias da defesa, isto é, militares. Mas está amarrado pelo princípio de que a dívida pública, ou déficit orçamentário, não pode ultrapassar os 0,35% do Produto Interno Bruto (PIB).

Houve uma queda de braço interna à coalizão do governo, formada pelo SPD socialdemocrata, os Verdes e o liberal FDP (de Freie Demokratische Partei). Os Verdes e o SPD queriam aumentar o percentual da dívida pública em relação ao PIB, mas o FDP fechou questão e ganhou a parada: só permaneceria no governo se os 0,35% fossem mantidos.

Desindustrialização

O resultado de tudo é que a Alemanha entrou num processo acelerado de desindustrialização, arrastando consigo o continente todo. De julho de 2023 a julho de 2024 a produção industrial alemã caiu em 5,45%, índice superado apenas pela queda do setor na Hungria ( -6,4%) e na Estônia ( -5,8%). O recuo global foi de 2,2% na Zona do Euro e de 1,7% na União Europeia.

Um sinal agudo da crise apareceu na Volkswagen, empresa culturalmente ligada à identidade alemã. Acossada também pela queda nas importações chinesas e pela concorrência deste país dentro da Europa, pela primeira vez em seus quase 90 anos de existência a empresa anunciou a disposição de fechar unidades de produção para equilibrar as contas. A montadora também anunciou a decisão de romper um acordo trabalhista de 30 anos com o sindicato dos trabalhadores, que protege salários e empregos. Como o sindicato tem uma forte representação no Conselho Diretor da empresa, a batalha promete ser dura. Como também a luta pela recuperação e pelo equilíbrio na economia alemã e europeia promete ser tenaz e longa.

 

*Flávio Aguiar, jornalista e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo). [https://amzn.to/48UDikx]

 

Fonte: https://www.rfi.fr/br/podcasts/o-mundo-agora/20240916-an%C3%A1lise-situa%C3%A7%C3%A3o-econ%C3%B4mica-da-alemanha-locomotiva-da-regi%C3%A3o-representa-uma-amea%C3%A7a-para-a-europa

 

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