Dois pequenos textos sobre o teatro de Arthur Miller. Por Maria Sílvia Betti


Dois pequenos textos sobre o teatro de Arthur Miller.
Por Maria Sílvia Betti


Arthur Miller

1)    BREVE RESUMO
Nascido em Nova Iorque em 1915 e falecido em 2005, Miller documentou, ao longo de mais de seis décadas de trabalho, a crise ética inerente ao capitalismo estadunidense. No reconhecimento conquistado por seu teatro junto à crítica dominante, este aspecto foi frequentemente negligenciado pela crítica, que tendeu a ressaltar ora as “dimensões universais” dos temas, ora o tratamento psicologizante das personagens.
O teatro de Miller trata do cidadão comum, desprovido de traços que o elevem acima de seus semelhantes. Seus protagonistas tendem a identificar-se com as palavras de ordem do sistema, que pregam a competição como norma e o sucesso como objetivo. O que interessa a Miller não é examinar a suposta vitimização do indivíduo, mas investigar os meios pelos quais ele rende tributo incondicional aos próprios mecanismos que o alienam e exploram.
Dentre todos os intelectuais que manifestaram publicamente seu repúdio ao macartismo e à política persecutória dos anos 1940 e 1950, Miller foi a figura de maior notoriedade.Nas décadas de 1960 e 1970 ele teve participação ativa no movimento de luta pelos direitos civis e na campanha de protesto contra a guerra do Vietnã, e em 2003 manifestou sua crítica irrestrita à política externa de George W. Bush e à invasão do Iraque pelos Estados Unidos. A história do engajamento político de Miller mescla-se à sua própria vida como dramaturgo.


2)    IMPORTÂNCIA NA DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA
As peças de Arthur Miller peças registram o impacto produzido na esfera ética pelas grandes crises históricas de sua época: a Depressão econômica que se seguiu ao “crack” da bolsa de 1929, a ascensão do nazismo, a experiência aterradora do Holocausto, o macartismo, a política de delações instituída pelo governo federal norte-americano durante a guerra fria, e a ideologia inerente ao chamado “Sonho Americano” de sucesso pessoal e financeiro.
Representar dramaturgicamente toda essa gama de assuntos foi para ele um desafio constante, e envolveu o uso de diferentes recursos expressivos, além de uma crítica contínua do pensamento dominante, engendrado pela máquina estatal e pela indústria do consumo.
O teatro de Miller transmite ao seu espectador e leitor a convicção de que há uma verdade a ser investigada e descoberta, e de que isto só é possível mediante o mergulho analítico nas experiências históricas e coletivas do passado. Formalmente, trata-se de uma opção que o aproxima da técnica dramatúrgica de Ibsen e que o afasta deliberada e conscientemente da estrutura dramática convencional.
Dentro da dramaturgia contemporânea, o trabalho de Miller se caracteriza pela procura constante da coerência e da integridade, opção que o colocou, como cidadão e como artista, na contracorrente da ideologia estadunidense dominante. Em Timebends, sua autobiografia, ele observa que a guerra do Vietnã o havia feito questionar se seria possível outra vez escrever-se uma peça que revelasse criticamente um tema submerso. Em alguma medida essa foi sempre a procura que o norteou em tudo o que escreveu, e é ela que o faz tão perturbadoramente atual.


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Conheça também:

de Maria Sílvia Betti (organizadora da coleção Oduvaldo Vianna Filho pela Editora Temporal)

Dramaturgia Comparada Estados Unidos / Brasil: Três estudos
Autora: Maria Sílvia Betti
Editora: Cia. Fagulha
ISBN 13:       978-85-68844-03-8
Páginas:       360




Dramaturgia Comparada Estados Unidos / Brasil: Três estudos – Maria Sílvia Betti




Tel.: (011) 3492-3797


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