PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA: O QUE FAZEMOS? POR QUE PESQUISAMOS? PARA QUEM PESQUISAMOS? POR QUE PESQUISAMOS? QUAIS OS OBJETIVOS?

 

PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA:

O QUE FAZEMOS? POR QUE PESQUISAMOS? PARA QUEM PESQUISAMOS?

POR QUE PESQUISAMOS? QUAIS OS OBJETIVOS?

Maria Sílvia Betti (1)

FFLCH-USP


 

Dentro do Sistema Nacional de Pós-Graduação vigente no Brasil, o funcionamento dos Programas de Pós-Graduação é referendado e avaliado pelas normas da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, uma Fundação do Ministério da Educação).

Todos os cursos de mestrado e de doutorado de instituições públicas e privadas que tenham sido aprovados pela CAPES e reconhecidos pelo Conselho Nacional de Educação passam por uma avaliação periódica por Comitês compostos por assessores externos. Essa avaliação é realizada com base em critérios que a CAPES considera imprescindíveis à excelência acadêmica dentro das diferentes áreas.

São as coordenações das áreas de avaliação da CAPES que definem os indicadores e os critérios específicos a serem utilizados no processo avaliativo. Todo ano, cada Programa de Pós-Graduação precisa inserir no sistema de Coleta de dados da CAPES https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/ as informações detalhadas referentes à sua Proposta de trabalho e ao conjunto da produção bibliográfica, artística ou técnica elaborada por seu corpo docente e discente. Do resultado atingido por Programa na avaliação de sua Proposta e de sua produção resultará uma nota dentro de uma escala de 1 a 7. Dessa nota dependerá o total de recursos que cada um vai receber.

Um dos itens de maior peso na avaliação da Proposta é o da produção intelectual dos docentes: é preciso que cada docente permanente tenha escrito, nos cinco anos que precedem cada avaliação, um mínimo de cinco produções bibliográficas qualificadas (ou seja, publicadas como artigos em periódicos, como livros ou capítulos de livros classificados nos estratos superiores do Qualis, sistema brasileiro de indexação de periódicos e de livros mantido pela própria CAPES).

De acordo com a CAPES, tanto os Programas da área de Artes como os da área de Linguística e Literatura devem atender a essa exigência:

Requer-se que a proposta indique, de cada docente permanente, cinco produções bibliográficas qualificadas (artigos em periódicos, livros ou capítulos de livros). Essas produções devem ter sido realizadas nos últimos cinco anos anteriores ao ano de submissão da proposta, observando-se a modalidade do curso (acadêmica ou profissional) a que o docente se vincula.

Produções qualificadas são as publicadas em periódicos que tenham sido classificados ou indexados de acordo com o que a CAPES considera meritório. A indexação é atualizada anualmente, e segue os critérios definidos com base no número de exemplares circulantes, no número de bases de dados de indexação, no número de instituições que publicam na revista, etc.

O Qualis avalia exclusivamente as publicações previamente informadas pelos programas de pós-graduação na Plataforma Sucupira:

https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/

O Qualis Capes de indexação de periódicos está estratificado da seguinte forma: as categorias A1 e A2 abrangem os periódicos internacionais considerados de excelência; B1 e B2 abrangem os periódicos nacionais considerados de excelência; B3, B4, e B5 correspondem aos periódicos considerados de “média relevância”, e C abrange os periódicos considerados “não científicos” e inacessíveis para avaliação.

[Fonte: https://doity.com.br/blog/o-que-e-qualis-capes/#:~:text=A1%20e%20A2%3A%20contempla%20peri%C3%B3dicos,cient%C3%ADficos%20e%20inacess%C3%ADveis%20para%20avalia%C3%A7%C3%A3o.]

Os estratos superiores do Qualis, ou seja, A1, A2, B1 e B2, possuem o chamado Fator de Impacto, método avaliativo utilizado pelo Institute for Scientific Information – ISI.

O que é o Fator de Impacto?

O Fator de impacto (Impact Factor) é um método bibliométrico desenvolvido para avaliar a importância dos periódicos científicos em suas respectivas áreas. Esse método foi desenvolvido pelo linguista e empresário Eugene Garfield [1925-2017] com o intuito de assegurar uma forma científica de avaliação apoiada na veracidade das informações, e no número médio de citações de artigos científicos publicados em determinado periódico.

Essas a seguir são explicações extraídas da própria CAPES sobre os critérios que embasam essa avaliação qualitativa baseada do Fator de Impacto:

Como se mede a qualidade da pesquisa publicada? Em várias áreas, há o fator de impacto. Em princípio, este se mede tomando-se uma revista científica, verificando quantas citações revistas científicas qualificadas fizeram de um número dela e dividindo-se esse total de citações pela quantidade de artigos publicados naquele exemplar. Assim, se a revista A publicou 20 artigos, que foram citados 100 vezes, seu fator de impacto é cinco. Mas, se nas outras publicações saiu apenas uma referência a algum daqueles artigos, e nada mais, o fator é 0,05 (ou seja, um dividido por 20). Esta é uma medida bastante sofisticada. Ela significa que não se mede apenas a qualidade da revista, mas o seu “impacto”, ou seja, sua fecundidade. Um trabalho pode ser muito bom, eventualmente, mas não repercutir em nenhuma pesquisa nova. Não será citado, então, e terá sido de certa forma estéril. Mas essa não é uma deficiência do fator de impacto. É que este mede como uma publicação contribui para constituir uma comunidade científica, não apenas a qualidade de artigos isolados. Se há citações, é sinal de que se está construindo um ambiente de diálogo, uma massa crítica, que permitirá que a área avance.

Fonte:

https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/Artigo_10_08_07.pdf

           

Com base nesse método, os periódicos de maior Fator de Impacto fazem jus a faixas de pontuação definidas da seguinte forma:

A1: 100 pontos, impacto igual ou superior a 3,800;

A2: 85 pontos, impacto entre 3,799 e 2,500;

B1: 70 pontos, impacto entre 2,499 e 1,300, e;

B2: 55 pontos, impacto entre 1,299 e 0,001.

Já para os estratos inferiores (B3, B4, B5 e C) não há Fator de Impacto.

B3: 40 pontos;

B4: 25 pontos;

B5: 10 pontos, e;

C (0).

 

A CAPES, nesse mesmo documento disponível em https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/Artigo_10_08_07.pdf, ressalta o que considera serem os benefícios e aperfeiçoamentos resultantes da adoção desses parâmetros em seu modelo mais recente do Qualis. Dentre os mencionados, destacamos os seguintes, extraídos da página 3 do documento:

Utilizar indicadores objetivos e desconsiderar fatores discricionários como pertinência ou relevância do periódico para a área;

O modelo deve incorporar critérios de qualidade externos, ou seja, independente do uso que as áreas fazem dos periódicos;

O modelo deve ser indutor de internacionalização das publicações de artigos e também de indexação de periódicos.

[Disponível em https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/documentos/avaliacao/avaliacao-quadrienal-2017/DocumentotcnicoQualisPeridicosfinal.pdf]

 

O que depreendemos desses três tópicos destacados acima pode ser resumido da seguinte forma:

 1) para a CAPES as métricas de indexação prevalecem sobre critérios como relevância e pertinência, considerados discricionários, e prevalecem também sobre a utilidade que o artigo, capítulo ou livro avaliado tem para a área ou Programa.

2) Para a CAPES a internacionalização das publicações e a indexação dos periódicos é o objetivo central a ser induzido.

Com base no que podemos deduzir desse breve resumo feito até aqui, extraímos as seguintes conclusões:

1)      Para a CAPES, o valor da produção intelectual de cada Programa e de cada docente ou discente só será reconhecido se for submetido a esses processos bibliométricos de avaliação, e se, dentro deles, fizer jus a uma classificação tida como meritória. Fora desse universo mensurável e quantificável a produção intelectual não tem sequer existência reconhecida. Uma publicação terá valor para a CAPES se, dentro desses parâmetros, conseguir provar que contribui para a formação de comunidades científicas novas, ou se provar que foi capaz de ser citada por comunidades científicas já devidamente consolidadas. O raciocínio de base é: se uma publicação é citada, isso indica que ela está contribuindo para que haja avanço por parte da área a que se liga. Para mensurar e comprovar o número de citações atingido por docente, a CAPES passou a assinar diversas bases de dados, além de disponibilizar em seu Portal de Periódicos a consulta a um grande número de outras. Veja-se https://www.periodicos.capes.gov.br/images/documents/Manual_AdminIP_AdminIES.pdf

 

2)      Publicar em um periódico Qualis A1 ou A2 passou a constituir um fim em si mesmo em muitos programas de pós-graduação, já que não há outra forma de reconhecimento da produção intelectual de docentes e discentes. Complementarmente, podemos acrescentar que a exigência de comprovação da publicação de cinco publicações qualificadas nos cinco anos que precedem a avaliação da Proposta de cada programa, é, para um número crescente de docentes em um número crescente de Programas, a única forma aceita para evitar o descredenciamento para pesquisa e orientação e até (dependendo da fase da carreira em que se encontra o docente) o rebaixamento de regime de trabalho.

Essas informações e reflexões aqui compartilhadas respondem de forma inequívoca às perguntas do título: o que fazemos? Por que pesquisamos? Para quem pesquisamos? Por que pesquisamos? Quais os objetivos?


______________________________________

 

(1) Maria Sílvia Betti é pesquisadora e docente Sênior no Programa de Estudos Linguísticos e Literários em Inglês da FFLCHUSP. Autora de Dramaturgia comparada Estados Unidos-Brasil. Três estudos. São Bernardo do Campo-SP: Cia. Fagulha, 2017. Organizadora da Coleção Oduvaldo Vianna Filho de dramaturgia (Editora Temporal).



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