Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex e Papa Highirte. Por Maria Sílvia Betti

Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex e Papa HighirtePor Maria Sílvia Betti 






Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex (1967)

 

“Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex”, revista musical criada em 1967, teve roteiro idealizado e escrito por Vianinha, Paulo Pontes e Armando Costa, com músicas de Dori Caymmi, Francis Hime e Sidney Waismann. Esse trabalho foi o passo inicial de criação, por seus autores, do Teatro do Autor Brasileiro.

Logo após “Se correr o Bicho pega, se ficar o Bicho come”, Vianna escreveu “Meia volta vou ver”, colagem de poemas e canções combinando aspectos do show “Opinião” e de “Liberdade liberdade”. O espetáculo teve sua estreia adiada duas vezes pelo grupo Opinião, e acabou sendo encenado no Teatro de Bolso.

Nesse mesmo período o grupo Opinião encenou, sob a direção de João das Neves, “A saída, onde fica a saída?”, de Armando Costa, Antonio Carlos Fontoura e Ferreira Gullar, uma adaptação épico-documental do livro “O estado militarista”, de Frederick J. Cook (lançado pela Editora Civilização Brasileira em 1964), abordando a corrida armamentista e a política externa imperialista dos Estados Unidos.

No programa de “Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex”, espetáculo que anunciou a criação do Teatro do Autor Brasileiro, Vianinha apresentou a plataforma do novo grupo:

 

O Teatro do Autor Brasileiro é formado por Oduvaldo Vianna Filho, Dias Gomes, Gianni Ratto, Armando Costa e Sérgio Fadel. Pretendemos montar somente autores nacionais, sem, com isso, nos tornarmos árbitros da dramaturgia brasileira. Só para manter constante o contato do autor nacional e o seu público. Trocarem verdades e esperanças e desencantos sempre, até descobrirmos melhor os mecanismos das coisas nossas.

Vianna interessava-se pela revista musical como forma de apreensão crítico-satírica dos fatos miúdos do cotidiano político do país, mas a estrutura episódica de “Dura lex” é mais abrangente, pois é desenrolada a partir de uma situação representativa da conjuntura política da América Latina, colocando em pauta questões como a ingerência política e econômica dos Estados Unidos, a dependência econômica dos países sul-americanos, os problemas decorrentes da militarização, e a supressão das liberdades civis.

Os quadros que constituem o texto remetem, implicitamente, a trabalhos criados e apresentados no CPC, como “Brasil versão brasileira”, de Vianinha, “Clara do Paraguai”, de Armando Costa, e “Petróleo e guerra na Argélia”, de Carlos Estevão Martins.

 

 

 

 

Papa Highirte (1968)

 

Peça de 1968, “Papa Highirte” foi inscrita no Concurso de Dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro e classificada em primeiro lugar. Apesar da premiação, a peça foi imediatamente proibida pela Censura e os exemplares que haviam sido publicados foram apreendidos.

Apesar da proibição, a peça teve uma estreia pioneira e clandestina em 1976, no campus da USP, por um grupo amador: o Grupo de Teatro de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas dirigido por Tin Urbinatti. A estreia profissional se deu em 1979, com o início da chamada “abertura democrática” e a liberação de textos proibidos. A montagem realizou-se no Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro, sob a direção de Nelson Xavier, tendo Sérgio Britto como o personagem título.

Juan Maria Guzamon Highirte é o nome do protagonista, cuja alcunha, Papa Highirte, coloca-o em analogia histórica com François “Papa Doc” Duvalier, ditador que governou o Haiti entre 1957 e 1971. Deposto na república fictícia de Alhambra, Highirte, exilado, encontra-se numa espécie de bunker na também fictícia Montalva e sonha em retornar ao poder. Enquanto ele procura articular contatos que imagina importantes nesse sentido, um atentado está sendo preparado por Mariz, jovem recém-contratado como seu motorista particular. Mariz, na verdade, é ex-militante de uma organização de esquerda armada, e deseja matá-lo para vingar o assassinato de seu companheiro militante Manito, preso e torturado pelas forças policiais sob o governo de Highirte.

A peça trabalha com dois planos de tempo em simultaneidade cênica: o presente em Montalva, e o passado em Alhambra; desenrolando assim duas linhas de progressão dramática paralelas: as articulações de Highirte para voltar ao poder e o plano de Mariz para executar Highirte.

            A montagem mais recente de “Papa Highirte” foi apresentada em 2023 em São Paulo, no Galpão do Grupo TAPA, com a direção de Eduardo Tolentino de Araújo, tendo Zé Carlos Machado como Highirte e Bruno Barchezi como Mariz.

 



Ciclo de encontros quinzenais online

ODUVALDO VIANNA FILHO [1936-1974]:

dramaturgia, pensamento estético e luta política.


Inscrições gratuitas

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16 de agosto – Moço em estado de sítio e Mão na luva

https://www.youtube.com/watch?v=ULh55cdgVjE

 

02 de agosto — Show Opinião e Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

https://www.youtube.com/watch?v=JYCZmcAEwWs

 

19 de julho — Quatro quadras de terra e Os Azeredo mais os Benevides

 https://www.youtube.com/watch?v=G4g050M3ByU

 

05 de julho – Auto dos 99%. Ou como a Universidade capricha no subdesenvolvimento e Brasil versão brasileira

https://www.youtube.com/watch?v=w1QWLElhkbo&t=1s

 

21 de junho – Chapetuba Futebol Clube e A mais valia vai acabar, seu Edgar

https://www.youtube.com/watch?v=5pHJ0U7l5ic&t=6s

 

 

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