Moço em estado de sítio e Mão na luva. Por Maria Sílvia Betti
Moço em estado de sítio (1965)
Vianinha escreveu “Moço em estado de sítio” em 1965. Pouco mais de um ano havia se passado após o golpe, e os artistas oriundos do Centro Popular de Cultura da UNE, rearticulados dentro do grupo Opinião, procuravam formas de criação viáveis e que fizessem sentido dentro do contexto em que se encontrava o país.
A peça aborda as questões da intelectualidade de classe média carioca nesse difícil momento, e ao mesmo tempo apresenta a síntese dos impasses que se colocam para o ativismo político de esquerda, premido entre o cerceamento das condições de atuação, de um lado, e as várias formas de cooptação por parte das instituições representativas do sistema, do outro.
Escrita em dois atos, “Moço em estado de sítio” é uma peça desafiadora pelo uso que faz de diferentes planos de espaço em sequência, e também por utilizar referências que remetem ao contexto da imprensa e dos setores institucionais de produção literária e cultural no pós-golpe.
Compartilhado por Vianna com os companheiros do Opinião, o texto foi recebido sem entusiasmo, como observa o biógrafo Dênis de Moraes. Isso presumivelmente ocorreu em virtude do tratamento formal dado por Vianna à peça, e por tocar centralmente em questões não resolvidas do debate interno do CPC. “Moço em estado de sítio” só veio a ser encenada em 1981 na direção de Aderbal Freire Filho, sete anos após a morte do autor.
Mão na luva (1966)
Em 1966, ainda dentro do grupo Opinião, Vianna escreveu uma peça em dois atos com duas personagens, Ele e Ela (um casal), à qual deu o título “Corpo a corpo”. A peça acabou não sendo compartilhada com os companheiros do grupo, e permaneceu inédita, possivelmente porque retomava questões de “Moço em estado de sítio”, que tinha sido recebida com reservas, como observa Dênis de Moraes. Além disso, a peça abordava a crise ética, política e comportamental da classe média no pós-golpe fazendo uso de recursos como o lirismo intenso de várias cenas, e as elipses de espaço e tempo.
O texto permaneceu inédito até 1981, quando o diretor Aderbal Freire Filho tomou conhecimento de sua existência e decidiu montá-lo como forma de homenagear o dramaturgo no décimo aniversário de sua morte. A montagem estreou no ano do décimo aniversário da morte de Vianna, 1984, com o título alterado para “Mão na luva” acrescido pelo subtítulo “Introdução ao homem de duas faces”. A alteração foi necessária para evitar confusão com o monólogo “Corpo a corpo”, que Vianna tinha escrito em 1971 e que havia sido encenado logo a seguir com direção de Antunes Filho tendo Juca de Oliveira no papel do protagonista. No primeiro “Corpo a corpo” (o de 1966), “Mão na luva” é a metáfora carinhosa com que a personagem Ele define a companheira no início da relação amorosa, aludindo simbolicamente à sua coerência e integridade:
Ele – [...] Sabe por que é que eu te amo? O teu tempo é assim parecido com o tempo das coisas. Você nunca sente aquela necessidade de ser imprevista. Feito trigo nascendo. Mulher longa. Você é feito tomar banho de cascata. Sabe o que quer, sabe o que te querem, junta os dois juntos. Você é mão na luva. (Chama-a) Mão na luva.
Ela – Hein?
Ele – Mão na luva.
Ela – Hein? (Se beijam)
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dramaturgia, pensamento estético e luta política.
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05 de julho – Auto dos 99%. Ou como a Universidade capricha no subdesenvolvimento e Brasil versão brasileira
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